Marcelo Odebrecht confirma que Lula era o‘Amigo’ na planilha de propinas - Arquivo O GLOBO |
SÃO PAULO — O empresário Marcelo
Odebrecht confirmou nesta segunda-feira ao juiz Sérgio Moro que “Amigo” era o
codinome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na planilha de propinas da
empresa. Segundo ele, a entrega de valores a Lula era feita por Branislav
Kontic, assessor do ex-ministro Antonio Palocci. O empresário confirmou ainda
que Palocci intermediava as remessas de dinheiro para o PT e era o “Italiano”
na planilha de pagamentos da empresa.
O ex-ministro Guido Mantega, que
sucedeu Palocci no Ministério da Fazenda, também teria passado a ser
responsável pela movimentação de recursos para o PT, tendo sido batizado com o
codinome de “Pós-italiano” ou “Pós-itália”. O empresário confirmou todos os
repasses anotados na planilha do Setor de Operações Estruturadas, que ficou
conhecido como departamento de propinas.
O empreiteiro afirmou que as duas
versões de planilhas do Setor de Operações Estruturadas, que registram repasses
da empresa ao PT, são verídicas.
A primeira, datada de 31 de junho de
2012, traz a informação de que havia R$ 23 milhões à disposição de Lula,
identificado pelo codinome “Amigo”. A segunda, de 31 de março de 2014, aponta
um saldo de R$ 10 milhões para o mesmo destinatário.
A diferença de R$ 13 milhões teria sido
sacada entre os 21 meses que separam as duas versões da planilha. Os saques
para Lula teriam sido identificados na tabela “Programa B”. Marcelo Odebrecht
explicou no depoimento prestado ontem que “B” é uma referência a Branislav Kontic,
que retirava o dinheiro em espécie e entregava ao ex-presidente Lula.
Registrada com o nome “Programa
Espacial Italiano”, a primeira versão da planilha foi apreendida pela Lava-Jato
no e-mail de Fernando Migliaccio, um dos executivos do departamento de propinas
da Odebrecht. Delator da Lava-Jato, ele entregou ao MPF outras versões do mesmo
documento, com registro de saques feitos ao longo do tempo, o que permitiu aos
investigadores da Lava-Jato conhecer, em detalhes, a movimentação.
A planilha “posição italiano” indica a
movimentação de R$ 128 milhões que, segundo a força-tarefa da Lava-Jato, teriam
sido destinados ao PT e movimentados por Palocci. O saldo da conta era de R$
79,5 milhões em 2012.
CELULARES SÃO MOSTRADOS A MORO
Moro tem mantido os depoimentos da
Odebrecht em sigilo. Argumenta que é preciso esperar os conteúdos sejam
liberados por decisão do STF.
Hoje, porém, o juiz foi surpreendido
com o vazamento de informações do depoimento de Marcelo Odebrecht ao site “O
Antagonista”, ainda durante a audiência. O aviso foi dado pelo advogado José
Roberto Batocchio, que representa Lula, Palocci e Mantega.
Os advogados se dispuseram a mostrar
seus celulares ao juiz, na tentativa de provar que não foram eles que vazaram
informações. Nada foi encontrado. O juiz fez constar na ata da audiência que
nem ele, nem a servidora da Justiça que acompanhou a audiência, estavam com
celulares na sala. Policiais federais que faziam a escolta dos presos e
procuradores também apresentaram seus aparelhos. Os advogados têm três dias
para requerer medidas que considerem pertinentes.
LULA: INOCÊNCIA SERÁ PROVADA
Batochio não quis comentar
as acusações. Ele afirmou ao GLOBO que houve vazamento criminoso de informações
e que não revelaria ou comentaria conteúdo sigiloso. Em nota, o Instituto Lula
afirmou que o ex-presidente Lula teve seus sigilos fiscais e telefônicos
quebrados, sua residência e de seus familiares sofreram busca e apreensão há
mais de um ano, mais de cem testemunhas foram ouvidas e não foi encontrado
nenhum recurso indevido. “Lula jamais solicitou qualquer recurso indevido para
a Odebrecht ou qualquer outra empresa para qualquer fim e isso será provado na
Justiça. Lula não tem nenhuma relação com qualquer planilha na qual outros
possam se referir a ele como ‘Amigo’”, diz a nota.
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