domingo, 7 de dezembro de 2025

PAISAGENS NATURAIS, NOTÁVEIS E DE RARA BELEZA DA BAIXADA E LITORAL MARANHENSE

 


Sempre que viajo para a Baixada e Litoral Maranhense fico extasiado e encantado com as

paisagens naturais, notáveis e de rara beleza da Baixada e Litoral Maranhense. Recuando no

tempo, relembro o dia em que meu pai, João de Assunção Pinheiro, pequeno comerciante,

artesão de chapéus e rezador, levou-me pelos campos da Baixada Maranhense, a partir da

cidade de São Bento, no final do mês de dezembro de 1977, em um jipe por ele alugado

penetrei naquelas clareiras por estrada de terra, observando os lagos e as lagoas cheias de

gaivotas, guarás e outros pássaros típicos daquela alterosa região. Indaguei-me então porque

antes não havia ainda ido presenciar todo aquele acervo natural, talvez único em todo nosso

Estado do Maranhão, um relicário de todo o Brasil. Região pantanosa e de difícil acesso, ainda

com estradas precárias na época, especialmente, invernosa, quando dificilmente até mesmo

de cavalo (do qual peguei ainda uma queda e fique sem meu relógio), com vegetação bastante

variada de mangues, algodoais, andrequicéis, capinzais entrelaçados, por onde deslizam as

canoas de remo, com os pescadores ou embarcados para as mais distantes paragens com suas

ilhas, tesos, povoados de terras firmes. Realmente, só quem por ali anda presencialmente

pode sentir e descrever as emoções dessas paisagens maravilhosas e encantadoras de imagens

coloridas, transformadas em fotografias, vídeos ou mesmo filmagens, por intermédio de

equipamentos eletrônicos sofisticados, porque são cenários estonteantes de rara beleza e

encantamento natural sem igual. Posso dizer que essas paisagens naturais são únicas e

peculiares, atravessando os chamados campos que se iniciam em Perizes e chegam até Viana,

num corredor de imenso verde e muita água perene doce em mistura com a salgada da Baía

de São Marcos, com atrações fenomenais de pescado, em diversas espécies, curimatá, tarira,

branquinha etc., degustadas com farinha d´água e sucos de plantas nativas como mamão,

abricó, manga, caju, carambola e tantas outras de qualidade e sabor apreciável.

E assim quase sempre quando ia e voltava à Baixada e Litoral Maranhense sempre noticiava no

programa aos sábados levado ao ar na Radio Educadora do Maranhão, chamado “A Lei é para

Todos” (que durou 15 anos), ou então no “Destaque da Imprensa”, com a participação de

outros colegas jornalistas e radialistas, como Jersan Araújo (recentemente falecido, de São

João Batista, que chegou a ser vereador por aquele município), Jota Kerly (radialista e veterano

da radiodifusão proveniente de Pinheiro-MA), Nonato Reis (hoje célebre escritor, natural de

Viana, cujas obras tem descrito com genialidade seu torrão)) e Othelino Filho (ilustre jornalista

já falecido) e como também com maior frequência nas páginas do Jornal Pequeno, onde eu

narrava as peripécias das viagens por terra, mar e as vezes nos lombos de jumento,

verdadeiras jornadas, onde descrevia as aventuras por carro, de ônibus, de lancha e canoa, a

pé, montado as vezes a cavalo e em jumento, algumas delas em que enfrentava sacrifícios e

longas caminhadas, em estradas carroçáveis, poeirentas e piçarradas, lamacentas e

escorregadias, as vezes até obrigado a voltar do percurso pela impossibilidade de a viagem

continuar devido aos atoleiros, e assim utilizei nessa ocasião diversos títulos emblemáticos

como “Tributo de Amor-Saudade a Guimarães”, “Maranhão, de muitos problemas e poucas

soluções”, “Um lugar chamado Sororoca”, “Baixada: da lama ao asfalto“, “Recordações de

meu pai” e tantas outros artigos e reportagens publicadas sob o crivo da emoção e de

sentimentos de tentar fazer chegar às autoridades competentes e à opinião publica em geral o

grito dos baixadeiros e das comunidades do Litoral Norte do nosso Maranhão cansado de

guerras e combates, as vezes bem sucedidos e noutros nem tanto com derrotas, fracassos,


como vitórias e conquistas, sempre deploradas ou exaltadas, com suas festas sazonais do

calendário religioso ou momesco, como ladainhas, folguedos e bailes.

Tantas vezes me perguntei porque uma região tão rica e de tantas belezas naturais e recursos

alimentares, de potencial econômico como carnaúba, coqueiros, mandioca e tantas outras

frutas como carambola, manga, coco babaçu e da praia, de fauna riquíssima, como tatu, preá,

búfalo, porco, pato, galinha, preguiça etc, continuava abandonada, embora exaltada, por mim

e outros amigos e conterrâneos, cujo legado maior seria a falta de infraestrutura, hospitais,

escolas e postos de saúde, segurança pública, entretanto, deve-se ressaltar que daquele

período (1977) para cá houve progresso em se alcançar patamares melhores nesses requisitos

e a tendência é progredir cada vez mais até com asfaltamento e pavimentação de estradas,

com abertura de boas rodovias e até pontões modernos, ainda que a travessia de ferry-boat

continue ser a pedra no sapato dos baixadeiros e habitantes do Litoral Norte Maranhense.

Porém, nossa abordagem preferencial é sobre as paisagens miríficas de que dispõem a Baixada

e o Litoral Maranhense, dignas de figurar em qualquer almanaque ou amostragem de turismo

religioso, cultural, de lazer e recreação, como a Praia de Araoca, no município de Guimarães, a

de Itapeua, no Município de Cajapió, os rios e os lagos de Anajatuba, Vitória do Mearim,

Viana, Matinha, Cajari e Penalva, os portos da Raposa, em São João Batista, os campos e lagos

de São Bento, Bacurituba, Peri-mirim, Palmeirândia, São Vicente Ferrer, Pinheiro, Bequimão,

Central, Mirinzal, Cedral, Porto Rico, Serrano do Maranhão, Bacuri, Apicum-Açu e Cururupu,

esses últimos com seus mares piscosos e lencóis arenosos, igarapés, suas enseadas e praias

estonteantes e espetaculares, enfim, um relicário de belezas naturais, notáveis e de raridade

incomum.

Nesse aspecto, frise-se, que as imagens projetadas em qualquer ambiente cenográfico seria

difícil de representar a própria realidade das imagens sensacionais da Baixada e Litoral

Maranhense, que somente ao vivo é possível de desfrutar com toda a onda de mistérios e

sensações que envolve cada um desses lugares, espaços habitado por ribeirinhos, pescadores

e pessoas de atividades agrícolas, cuja a vida é de absoluta tranquilidade e qualidade sem par.

Cremos realmente em futuroso destino para a Baixada e Litoral Maranhense, por isso, essas

pequenas pinceladas de seus imensos recursos naturais, de sua beleza, dos encantos e

riquezas culturais ancestrais de sua boa gente nos levam a sentir que é um lugar abençoado

por Deus e lindo por natureza, e com certeza devemos preservar para as futuras gerações esse

legado que nos emociona e merece louvação à Deus por possui-lo e usufrui-lo aqui na Terra.

Preservá-lo é preciso!

*Texto da palestra a ser proferida no dia 04/12/2025, nos Diálogos Baixadeiros, seminário

realizado pelo Curso de História da Universidade Federal do Maranhão – UFMA

**Josemar Pinheiro, advogado, jornalista e radialista, graduado em Direito e Comunicação

Social (Habilitação em Jornalismo) pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA, ex-

professor de ambos cursos em que se habilitou, exerceu os cargos de Promotor de Justiça na

Comarca de Cândido Mendes-MA, Conselheiro da OAB-MA e Presidente da Comissão de

Direitos Humanos e membro da Comissão Nacional de Direitos do CFOAB (1990/94),

Procurador Geral do Município de São Luís, Secretário de Estado da Casa Civil do Maranhão

(2007/2010). Mestrando em Direito Público pelo convênio CEUMA-UFPE (1999/2000).

Fundador e ex-presidente da Sociedade dos Conterrâneos e Amigos de Cajapió – SCAC (há 36

anos) e editor de jornais periódicos que circularam em defesa e proteção da Baixada

Maranhense como “Gazeta da Baixada”, “O Caranguejo – berço de vida e fonte de





alimentação” e “Clamor da Hora Presente” e colaborador nos matutinos “Jornal Pequeno”, “O

Imparcial”, “O Debate” e “”Tribuna da Imprensa”, na cidade de São Luís-MA, assim como de

programas radiofônicos e televisivos na Radio Educadora, Rádio Timbira e TV Guará.

Atualmente é Delegado Representante do Sindicato dos Radialistas do Estado do Maranhão –






quinta-feira, 25 de setembro de 2025

SCAC fortalece laços com Cajapió no festejo de Nossa Senhora das Mercês

Conceição Mendoça
Benedito M Costa
e Padre Weliton

Mais uma vez, a fé e a tradição uniram conterrâneos em Cajapió. Nos dias 23 e 24 de setembro, a Sociedade dos Conterrâneos e Amigos de Cajapió (SCAC) esteve presente no festejo de Nossa Senhora das Mercês, padroeira do município. Os diretores Conceição Mendonça e Benedito Militão Costa representaram a entidade nesse momento de devoção e celebração comunitária.

A participação incluiu a missa campal na Praça da Matriz, no dia 23, e a emocionante procissão de encerramento, no dia 24, que reuniu centenas de fiéis em um verdadeiro testemunho de fé, além de encontro com o pároco da cidade, Pe. Weliton.
O festejo, que acontece de 15 a 24 de setembro, é um marco na vida religiosa e cultural da cidade. Durante os dias de programação, moradores e visitantes participam de peregrinações, missas, batizados e, por fim, da tradicional procissão que encerra a festa.
Fundada em 1996 e reativada em julho de 2024, a SCAC tem sede em São Luís, mas mantém viva sua ligação com Cajapió. A presença da entidade no festejo demonstra o compromisso de valorizar as tradições, apoiar a comunidade e fortalecer os laços entre os filhos da terra e seus amigos.



terça-feira, 23 de setembro de 2025

Memórias coletivas dos tempos do Coreto da Praça das Mercês

 


Professora Conceição Mendonça


Memórias coletivas dos tempos do Coreto da Praça das Mercês

Por Conceição Mendonça

As lembranças aprisionadas se desprendem no giro da roda do tempo, senhor maior, numa viagem na alameda das memórias de onde afloram singulares recordações do Coreto.

Um genuíno espaço em formato circular com cobertura, outrora construído na praça da matriz em Cajapió, com degraus internos que serviam de bancos para abrigar a conversa entre amigos e o deleite dos casais enamorados.

De onde emanava energia astral na forma lúdica de se divagar, alcançando corações e mentes ao revisitar o passado distante. Como reminiscências cálidas num reencontro de memórias cultivadas para assim, preservar a história de nossa gente.

Ah! O Coreto!

Construído nos idos anos 60, na segunda gestão do prefeito José Lázaro de Araújo, vulgo Lazico. Juntamente com a praça amurada que esteticamente desagradou a muita gente, mas que parecia protegê-lo dos olhares curiosos e vigilantes de toda a cidade.

Que bisbilhotava os mais tênues segredos de quem só queria ser livre para brincar de viver e, brindar a vida com entusiasmo e paixão. Eram as aspirações de jovens corações que em plena ditadura militar, apesar de não entenderem nada de rebelião, queriam apenas fazer sua própria revolução.

O Coreto, com suas duplas entradas, uma de frente para o prédio da prefeitura e a outra frontal a entrada principal da Igreja da matriz. Era um espaço excepcionalmente mágico, de onde se contemplava o balançar ritmado das folhas das belas e imponentes palmeiras. Que antes como sentinelas, conduziam os devotos, romeiros e visitantes em direção a fé e a veneração à Nossa Senhora das Mercês, a padroeira deste torrão.

E como reza a lenda, desde 1876, na então bucólica Vila de Cajapió é a guardiã zelosa que vela pelo sono dos filhos seus. Como certa vez escreveu o poeta e compositor Antônio Fernandes (Punha) na canção “Chão de Mercês”:    

                Povo de Deus minha aldeia

                Palmares das bailarinas

                Viva os heróis anciãos

                Viva o meu chão de Mercês

Este espaço singular, testemunhou na década de 70 acontecimentos relevantes para a cidade. Como a instalação na praça da matriz de um teleposto com TV, construído em frente á uma das  entradas do mesmo que ficava de frente para a prefeitura na primeira administração do prefeito Denizard Almeida.

E o mesmo logo se transformou no principal entretenimento local. Onde as pessoas se reuniam todas as noites para assistir principalmente as novelas da época como Cavalo de Aço e O Semideus. E também o programa Telecatch, tendo como protagonista principal Ted Boy Marino. Era transmitido nas noite de sábados e a propaganda ficava a cargo de Zeca de Lulu que anunciava pelas ruas: “Hoje vai ter Telecatch”. E conforme lembranças da época partilhadas por  Benedito Militão, o responsável em ligar e desligar a TV era João Teixeira.

Nessa época não havia ainda luz elétrica e a energia que abastecia parte da sede do município vinha do gerador da prefeitura que ficava na oficina de Seu Ribamar Coxo. O gerador com raras exceções era desligado ás 22h, após um sinal dado que era conhecido pelos moradores. Ou seja, a luz piscava três vezes como aviso para quem estivesse em casa acendesse suas lamparinas e candieiros. E aqueles que estivessem na rua retornasse as suas casas ou desfrutassem da luz natural da lua quando disponível.

No inicio da década de 80, o Coreto era o local  de encontro entre amigos, regado a bebidas da época que a pouca grana da galera podia comprar como: fogo mineiro, conhaque de alcatrão são joão da barra, caldesano, vinho são braz, pitú e claro a legitima cachaça da terra  de Orlando Froes.

Este lugar, guardava as memórias do tempo em que a praça da matriz era o ponto central dos eventos da cidade, como os festejos juninos, das Mercês e o carnaval. E em volta ou dentro do Coreto os casais de namorados se encontravam, quando os abraços nos encontros e despedias eram arrebatados pela fugacidade da vida.

Ao longo do tempo, tornou-se um  espaço de pura nostalgia romântica embalada pelas canções Sinfonia da Mata, Sertaneja, Último Desejo, Argumento, Deusa da Minha Rua e Lembranças na voz de Chico do Fomento. E pela melodia do violão de Colatino cantando Não Chores Mais e A Rita com o frescor e os sonhos da juventude.

O Coreto, foi testemunha de inúmeros festejos em homenagem á Nossa Senhora das Mercês, quando a praça da matriz ganhava ares das ágoras da Grécia Antiga, transformando-se num centro religioso para a celebração litúrgica da missa campal sobre o zelo de Dona Luzanira, Maria Arcângela e tantas outras.

De longe avistava-se os adornos das flores do altar em volta da imagem da santa como quimeras em perfeita harmonia com as toalhas de renda branca que tremulavam ao vento numa sincronia celestial. E a voz suprema de Antônia Corvelo entoando os cânticos marianos, acolhia os devotos que vinham dos povoados, cidades vizinhas e da capital numa verdadeira romaria de fé e devoção. E em busca de novas bênçãos e agradecer ás graças recebidas pelas promessas feitas á santa milagrosa, Nossa Senhora das Mercês.

Do Coreto, era prazeroso observar a praça  decorada com bandeirinhas coloridas em conformidade com as cores do andor que saia  em procissão pelas ruas da cidade no final da tarde do último dia da festa, 24 de setembro para alegrar a realidade nua e crua da vida difícil do povo trabalhador.

Também avistava-se desse privilegiado espaço, em volta da praça amurada, as barracas que abrigavam os romeiros e visitantes do sol escaldante das manhãs ensolaradas de setembro. E serviam de local para reencontros repletos de saudades e lembranças entre os filhos e filhas que partiram e retornavam ao seu lugar de origem.

Durante os festejos, o Coreto se transformava em espaço para apresentação das bandas de música de sopro. E sobre isso, Arnold Soares compartilha suas lembranças: “eu era criança e morava no povoado Bom Jardim e sempre no dia 23 de setembro vinha com meus pais e minha irmã para os festejos das Mercês. E lembro da bandinha de sopro dentro do coreto tocando e animando a festa. Também era o tempo em que tirávamos fotografias de monóculo para guardar como recordação da festa. Recordo-me também do grande leilão. Tempos bons”.

E segundo Antônio Mendonça a banda era de Bacurituba de Coló Mendonça, Anacleto, Zé Braúlio e outros para animar o largo da igreja ao longo do dia. E João Pinheiro era o leiloeiro oficial da festa.

De dentro do Coreto, o leiloeiro conduzia o leilão que era bastante concorrido com muitos prêmios que   movimentava economicamente e abrilhantava o festejo da padroeira Nossa Senhora das Mercês no dia 24 de setembro. E de onde era anunciado a vencedora do concurso de bonecas da festa.

Por fim, as memórias dos tempos do Coreto estão enraizadas nas mentes e corações de quem viveu essa época. Compartilhando experiências, momentos de alegrias e histórias que ficaram para a posteridade, como esta relembrada por José Reinaldo Serrão: Mário de Seu Mano, conhecido como Gaola (já falecido). Uma certa noite dormiu no banco do Coreto e quando acordou foi surpreendido pelo grito horripilante de uma coruja, popularmente chamada de rasga mortalha. Apavorado, Gaola gritou: “o bicho quer me comer mamãe!”



[1]  Elemento urbanístico que teve grande importância até o fim da década de 1960. Sua arquitetura básica é composta de planta circular, elevado em alvenaria e com cobertura. Alguns estudiosos apontam que o Coreto nasceu na China e foi trazido para a Europa na época das Cruzadas Outros sugerem que ele surgiu com os movimentos liberais europeus no século XIX, como forma de democratização de espaços para oradores e apresentações musicais, onde a população pobre poderia assistir, por isso o formato redondo.

 

² Conceição Mendonça é natural de Cajapió -MA. Professora da rede pública de São Luís. Graduada em Ciências da Religião, Filosofia e Pedagogia. E membro da atual Diretoria Executiva da SCAC – Sociedade dos Conterrâneos e Amigos de Cajapió exercendo o cargo de 1ª Secretária


Igreja de Nossa Senhora das Mercês


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